Historicamente o papel da mulher tem se restringido apenas ao da procriação e afazeres domésticos. Ainda hoje a realidade de muitas mulheres se limita a isso, não lhe sendo concedido espaço para mais nada. Alguns grupos radicais vão mais além, e tiram da mulher até o direito ao prazer. O ato bárbaro da infibulação do clitóris ainda é praticado, nele são amputados o clitóris e os lábios menores e depois satura-se os lábios externos, ficando no local apenas uma grande cicatriz e um pequeno orifício para o fluxo urinário e menstrual.
Isso que parece um absurdo para nós é a realidade de muitas mulheres, oprimidas por sistemas religiosos e políticos fundamentalistas. E foi em parte a realidade de Ayaan Hirsi Ali.
Ayaan, natural da Somália, vive atualmente sob a proteção se seguranças nos Estados Unidos. O motivo de viver protegida deve-se ao fato de ter em 2004 trabalhado na produção de um filme em parceria com Theo Van Gogh, no filme Theo e Ayaan fazem duras críticas aos abusos infligidos as mulheres islâmicas. A própria Ayaan foi uma dessas tristes vítimas. Sofreu a já citada infibulação, fugiu de um casamento arranjado e foi viver na Holanda, onde mais tarde engajou-se na carreira política. Desde então tem sido ferrenha defensora dos direitos das mulheres.
A exibição do filme provocou a ira de grupos extremistas e Van Gogh acabou sendo assassinado, sobre o seu corpo foi encontrado um bilhete de ameaça a Ayaan, desde então vive em reclusão.
Emílio Calil, em seu blog Sobre o Cotidiano, relata suas impressões sobre o livro Infiel de autoria de Ayaan. O livro é uma autobiografia reveladora, uma caixa de pandora que faz eclodir a dura realidade das mulheres que vivem sob a linha dura do fundamentalismo religioso. Visitem o blog do Emílio e dêem uma conferida.
Parabéns pela escolha do livro. Ainda não li, mas, sem dúvida é uma boa pedida. Tenho andado afastado das livrarias por conta do pseudo sucesso de obras vazias (leia-se PAULO “PICARETA” COELHO e as milhares de versões de O “PSEUDO” SUCESSO). De qualquer maneira, seu texto me deixou curioso para conhecer a obra em questão.
Mesmo sem ter lido, gostaria de deixar uma impressão pessoal sobre uma possível discussão politica implicita na obra (socialismo x democracia). Sou completamente contra qualquer tipo de governo. Pra mim, homem que comanda outros homens é podre e corrupto, seja lá qual for o sistema. A diferença entre um sistema e outro, na minha opinião, é uma só: no socialismo há censura explicita, na democracia tudo fica nas entre-linhas…. Seja lá qual for a melhor opção, nada melhor do que o homem abandonar os mandamentos criados pelos homens e seguir sua vida!
Ok, valeu AlêGT. Mas eu ainda não li o livro, o Emílio leu. Mas assim que terminar os que estão na minha lista vou pegar Infiel para ler.
Ainda não li o livro, mas ouvi bons comentários.
É importante deixar claro que apenas algumas histórias de mulheres extraordinárias vem à tona e se tornam conhecidas. Mas existem muitas mulheres que vivem histórias dramáticas, inclusive no nosso Brasil, e ninguém ainda descobriu. É claro, que existem relatos de monstruosidades cometidas contra a mulher, seja em nome da religião (?), de sistema político e honra (?), mas no nosso cotidiano as batalhas também existem. Todos os dias milhares de mulheres deixam seus lares e partem para a rotina de trabalhar fora, 8, 10 horas por dia e quando chegam em casa não tem essa de “descanso da guerreira”….não pode pestanejar, tem que partir para o segundo turno, faça chuva, faça sol. É das mulheres são cobradas que sejam boas esposas, mães, amigas, sexies, etc e tal. Apesar das dificuldades, é ótimo ser mulher, só peço aos “homens de boa vontade” , aqueles que enxergam suas mulheres como suas companheiras, que dediquem tempo e atenção ao universo feminino.
Tem uma música que a Rita Lee canta e diz: “Nem toda feiticeira é corcunda e nem toda brasileira é b…. meu bem!”
É um recado prá bom entendedor…..
É ótimo saber que existem homens que se interessam pela luta da mulher!! Da mesma forma eu sei que existem homens, que estão na História ou não, que fazem muita diferença nas nossas vidas!!!!
De fato, a crueldade contra as mulheres somalis é chocante. Pior, por se tratar de tradição arraigada na cultura local, demonstra o quanto as convenções podem prejudicar os indivíduos cerceando seus direitos, infligindo sofrimento, tolhendo o prazer, inviabilizando o futuro.
Penso que não podemos ler sobre essas questões e nos sentirmos privilegiados por vivermos numa sociedade “civilizada”, na qual tais agressões não são toleradas. Como bem destacou a Jane Cleide, e estou de acordo com ela, no nosso “país tropical, abençoado por Deus”, vivemos uma série agressões diárias que não são contabilizadas – muitas vezes sequer percebidas -, todas amplamente circunstanceadas pelas nossas convenções culturais e hábitos sociais.
Não sei se na Somália as pessoas também consideram normal as crianças perambularem pelas ruas sem casa, sem abrigo, sem comida, sem proteção, sem futuro… Se lá for igual aqui, 2 x 1 para eles. Se não, estamos empatados na miséria.