Em uma conversa via MSN, um amigo de longa data, me veio com a seguinte idéia, criar um exército de homens honrados. A princípio a idéia parece absurda e até mesmo impraticável, mas não deixa de ser interessante.
Recentemente, lendo “Drácula” de Bram Stoker (livro muito bom por sinal), reparei nos costumes da classe média britânica do século XIX. E pude ver como a palavra de um homem tinha valor, mais até do que um documento assinado. Palavra de honra era tudo. O livro, ainda que de ficção, retrata de uma forma brilhante e detalhista, uma época real.
Mas e hoje em dia? Talvez entre os britânicos se encontre os tais “homens de palavra”, mas na maioria das sociedades ocidentais tais homens desapareceram quase que por completo. Falta o exercício da honra.
Então, o que é honra?
Podemos dizer que honra é um princípio moral de onde se derivam normas de conduta como, coragem, pudor, probidade e dignidade entre outras. Essas normas geralmente são estabelecidas como padrão a ser seguido por um grupo social. É justamente aí que tudo se complica. Temos no mundo muitos grupos sociais, diferentes uns dos outros e cada um com seu próprio código de honra. Se em um país morrer pela pátria é algo considerado honroso, em outro país talvez não seja.
Outro problema verificável é que os padrões de honra, a princípio criados para que o convívio social fosse possível, se transformam em ditaduras do comportamento. Por exemplo, em algumas comunidades puritanas dos Estados Unidos, em séculos passados, as mulheres que cometiam adultério eram obrigadas a costurar uma letra escarlate em suas roupas, para serem identificadas como adúlteras. Estas mulheres eram marginalizadas por tais comunidades e sofriam o opróbrio de todos.
É fácil concluir que honra pode ter seu lado positivo e negativo. Seria necessário repensar a honra, seus parâmetros e diretrizes. A busca por um padrão ético universal é difícil e complicada. Mas a filosofia se aplica a isso. Como você deve ter notado, as palavras ética e moral apareceram no texto associadas a questão da “honra”. Em filosofia, “ética” é a ciência da moral. É o ramo da filosofia que se debruça sobre as questões morais com a finalidade de encontrar uma “moral” que possa ser aplicada a todos.
Existe uma definição de moral que acho muito interessante “Moral é tudo aquilo que dá prazer ao homem”. É lógico que os limites deste tal “prazer” se limitam ao “prazer” do outro. Mentir por exemplo, embora prazeroso para quem minta, não o é para aquele que é vítima da mentira, portanto dentro da premissa estabelecida acima, mentir seria algo imoral. Mas e se a mentira não tiver por objetivo prejudicar alguém? Seria imoral? Quando aplicamos isso a outros pontos como homicídio, suicídio, aborto, furto e roubo, aí a coisa muda de figura, e se torna muito mais complexa.
Levando tudo isso em conta, como fica a “honra” então? Ainda que seja possível defini-la com algumas palavras, traduzi-la para termos práticos parece não ser. No fim, parece que meu amigo, antes de criar seu exército de homens honrados, terá que primeiro refletir bem sobre quais normas de conduta adotar, talvez até criar novas. Ou seja, entrará num combate (intelectual) antes de angariar os soldados.
Filosofando 